quinta-feira, 22 de março de 2012

Irrigação: atrás do prejuízo


            
                                                                                                              Edegar da Silva (*)


A questão do uso da irrigação no Rio Grande do Sul (como de resto no Brasil) continua ainda um tabu. Honrosa exceção é o cultivo do arroz irrigado nos estados do Sul (RS e SC). Em 2007 foi divulgada uma matéria que lembrava de um estudo publicado 27 anos antes e que embasava o Plano Diretor de Irrigação do Rio Grande do Sul, de 1980. Àquela época o governador era Pedro Simon e o responsável pela mobilização era o geólogo Rogerio Ortiz Porto, também economista e um aficcionado pelo uso da irrigação na agricultura. Quando eleita a governadora Yeda Crusius (uma das suas bandeiras era da retomada do programa de Irrigação), tarefa para a qual convocou o experiente secretário Rogerio para comandar a Secretaria Extraordinária da Irrigação e Usos Múltiplos da Água. Depois da primeira fase em letargia, na segunda metade do governo as ações da pasta ganharam celeridade e o Pró-Irrigação estava em plena execução ao final de 2010. Em 2011, com o início da administração Tarso Genro foi extinta a secretaria e a execução do Programa Estadual de Irrigação veio quase à estaca zero. 

Assunto recorrente, o Correio do Povo na sua edição de 10 de janeiro de 1911, relatava uma das maiores secas da história em matéria com a seguinte manchete: “A seca provoca prejuízos no Rio Grade do Sul”. Já a Zero Hora registrava a seca de 1985/86 com uma extensa matéria que dizia: ”A seca iniciou a 20 de outubro de 1985 – marco inicial da pior estiagem ocorrida no Estado em 52 anos, conforme o 8º. Distrito de Meteorologia”. Um estudo da Fepagro conclui que, no Rio Grande do Sul, registraram-se sete anos de estiagem em cada dez anos nos últimos 80 anos e os prejuízos diretos e indiretos à economia gaúcha têm sido crescentes. Aliás, em recente artigo publicada pelo suplemento Campo & Lavoura da Zero Hora, em sua edição do último dia 9 de março, no artigo “Mais água para todos”, dois pesquisadores da Fepagro (Bernadete Radin e Luciano Vargas), defendem um projeto elaborado por aquela instituição e que é composto por cinco subprojetos que procuram a quantificação do impacto da agricultura sobre a disponibilidade hídrica para as plantas.

Segundo a BBC de Londres a FAO – Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação diz que “em 20 anos, faltará água doce para 60 % do mundo, razão porque é fundamental incentivar o seu armazenamento e uso”. No Rio Grande do Sul, com a criação do Pró-Irrigação/RS (Lei no. 13.063, de 12 de novembro de 2008 e Decreto n. 46.389, de 10 de julho de 2009), foram iniciados os cursos de capacitação (treinamento) que atingiram, até o final de 2010, mais de 28 mil produtores em todo o Estado; seguindo-se os projetos de construção de microaçudes (com até 5 hectares de área de alague) e de instalações de  cisternas, com a construção de 5.300 microaçudes e de 1.200 cisternas até o final de 2010. Estava iniciada a fase de financiamento dos equipamentos de irrigação e as etapas seguintes de um programa permanente em prol da irrigação. Foi extinto o site que estava no ar fomentando os exemplos e promovendo a educação de uso desta tecnologia, suprimido as demais ações, houve uma redução na velocidade da construção de microaçudes, as barragens em construção foram paralizadas e o primeiro ano do atual governo foi perdido em termos de ações para fomentar a irrigação. 

Com um prejuízo calculado pelo Governo do Estado em cerca de R$ 5 bilhões só na redução da atual safra de grãos, o que vivemos neste ano não foi nada imprevisível. Pelo contrário: Vale aqui reproduzir o que disse o Dr. Joseph D’Aleo, meteorologista de expressão mundial e fundador do Weather Channel (Canal do Tempo), quando participou do 5º. Encontro Analysis da Agricultura de Precisão, no dia 3 de julho de 2010: “Pode ser que a temperatura global caia, mas haverá calor e seca. Por isso que acredito que precisamos estabelecer a irrigação e formas de guardar água para as lavouras” D’Aleo previu um ciclo de cinco anos de estiagens a partir de 2012. Oxalá o governo Tarso Genro se dê conta do erro em parar o programa de irrigação, que na realidade não era um “programa da Yeda”, mas sim um necessário “programa para o Rio Grande”!


(*) Jornalista e técnico agrícola 


Artigo publicado no Jornal MOMENTO – Ed. de 20 de março de 2012 – pg. 2
(pode ser acessado pelo e-mail: www.momento.com.br)

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